Por Elis Franco
“Se
o sofrimento é inevitável, se os problemas da vida também o são, a pergunta que
devemos fazer não é “Como paro de sofrer?”, e sim “Pelo que estou sofrendo? Com
que propósito?”
Mark Manson
Quem
me conhece sabe o quanto eu gosto muito de ler. Ler para mim é parte essencial
da minha rotina e, assim como quem pratica um esporte, gosta de academia ou de
jogar conversa fora, eu sempre dou um jeitinho de fazer minhas leituras
semanais, por isso, carrego um livro na bolsa, lendo umas páginas sempre que é
possível. Estar acompanhada por um livro me livra de ficar irritada na fila do
banco, no consultório médico ou em qualquer outro espaço onde esperar é a
regra.
Leio
de tudo, sou desbloqueada para a leitura. Tenho interesse pelas diversas áreas
do saber, assim, passo o olho em livros de temáticas interessantes, desde que
não sejam muito técnicos. Mas eu percebo que há, por parte de alguns, certo
preconceito pela leitura de livros considerados de autoajuda. E eu estou entre
estes alguns, contudo, de um modo um tanto quanto maleável, pois só não curto
mesmo os autores que tentam nos engabelar, querendo nos fazer crer que somos as
criaturas mais especiais do universo, bastando pensar positivo e agir que o
mundo sorrirá para nós.
Recentemente,
dentro da linha de autoajuda, encontrei dois livros que me chamaram atenção. O
primeiro é O ego é seu maior inimigo,
de Ryan Holiday, classificado como “administração pessoal”. O segundo é A sutil arte de ligar o foda-se, de Mark
Manson, descrito como sendo “autorrealização. Daí fiquei pensando que há uma
autoajuda mais água com açúcar, esta que diz que tudo é lindo e fomos feitos
para sermos vitoriosos, assim como afirmam certos líderes religiosos, e outra
que nos dá um choque de realidade, fazendo-nos crer que não somos esta Coca-Cola
toda que imaginamos.
Holiday, por exemplo, afirma que “Quase
sem exceção, é isto que a vida faz: pega nossos planos e os rasga em mil
pedacinhos. Em alguns casos, só uma vez. Em outros, várias”. Quem de nós já não
viu nossos planos serem desintegrados de uma hora para outra e achou a maior
injustiça do mundo? Pois é, viver não tem muita lógica e, por mais que tentemos
alinhar nossos passos, há momentos em que o trem descarrilha e o jeito é juntar
os cacos, quando isso é possível.
Manson, por sua vez, postula “que
estamos enfrentando uma epidemia de cegueira psicológica que faz as pessoas não
enxergarem que é normal as coisas darem errado de vez em quando”. Na minha e na
sua vida, certamente, inúmeras coisas deram certo, às vezes até sem termos
planejado. Mas tantas outras nos fizeram crer que éramos fracassados, pois
vivemos em uma cultura que valoriza o sucesso a todo custo, um padrão de vida
de certas pessoas famosas que contam apenas seus acertos, suas conquistas, sem
deixar evidente quantos desafios enfrentaram para chegarem onde chegaram.
Vencendo meu preconceito, pude
perceber o quanto determinadas obras, best-seller
ou não, podem, de algum modo, melhorar a nossa capacidade de lidar consigo e
com o outro. É preciso, porém, fazer uma triagem e não acreditar em tudo quanto
é coach, esta raça que tem se
espalhando pelo mundo, pagando um diploma nas “uniesquinas” e sem ter um mínimo
de noção do que é a vida real.
Falando em coach, certa vez, fui a um evento de formação de professores, e uma
criatura dessas pediu para fecharmos os olhos e imaginarmos algo que gostaríamos
de possuir. Apesar de não gostar dessas babaquices, fechei os meus, pois não queria
ser do contra. Quando estava começando a pensar no meu desejo, o infeliz gritou
de lá, dizendo da possibilidade de termos uma Ferrari na garagem. Fiquei
enfurecida e não consegui pensar em mais nada.
Quando
a palhaça terminou, ele pediu para que falássemos no que pensamos, já que, de
acordo com a sua teoria, podemos concretizar tudo que criamos na mente. Desta
vez, porém, fui do contra e afirmei não ter pensado em nada, pois o desejo que
ele tinha para si atrapalhou a manifestação do meu desejo, que nada tinha a ver
com carro de luxo, sobretudo nas maravilhosas estradas brasileiras.
Pensando
nesta coisa de a vida ser boa, dos deuses, sejam eles quais forem, estarem ao
lado de seus eleitos, creio que a nossa melhor autoajuda será tentar nos reencontrarmos
em meio ao caos, assumindo certa dose de pessimismo que nos ponha em alerta
para os desacertos possíveis. E assim como Manson, também acredito que “Nem
sempre dá para controlar o que acontece conosco, mas sempre podemos definir nossa
interpretação dos acontecimentos e nossa relação a eles”. Isto é
autorrealização. E pouco tem a ver com aquisição de fama, bens materiais ou
poder.
Feira de Santana, 24 de março de 2018
Refletindo sobre minhas perdas e ganhos.