sexta-feira, 6 de julho de 2018

Não sou poeta


Isto de fazer versos talvez seja insônia,
amores malfadados, indagações, cansaço.

Não lido com eu lírico, o que escrevo
sou eu: mulher, mãe, brasileira.

Não sei fingir que sinto, meu verso é narcísico:
contemplo-me e reflito-me em palavras.

Isto de fazer versos é coisa de quem
sabe partir-se. Eu não sei.

Na insônia, cansaço, desilusão,
apenas componho-me em rabiscos...

Isto de fazer versos é dura aprendizagem,
ou ofício de quem sabe desintegrar-se.

Mas eu só sinto a vida pulsar de-va-ga-riiii-nho.
Um dia – quem saberá quando?− rabiscarei,
para além de mim, o verso almejado.

In:  Focus: antologia poética XII. Org. Ivan de Almeida. Salvador: Cogito: 2017. p. 68


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