Por Elis Franco
Ler
e compreender o que as dez competências da BNCC propõem não é tão difícil
assim, creio. Imaginar situações de aprendizagem inovadoras, para além do excesso
de aulas expositivas, idem; e isso já é realizado por diversos educadores. No
entanto, talvez o maior desafio da escola diante da nova Base e do que ela
espera como resultado é propor situações avaliativas condizentes com o
desenvolvimento de competências e não como mecanismos quantitativos que,
normalmente, dão-nos uma falsa ideia de que houve aprendizado.
Em
geral, nosso modelo interno de avaliação está centrado na realização de provas
objetivas e discursivas, haja vista que o modelo externo dos vestibulares e
ENEM segue tal padrão. Desse modo, é notório o quanto outras formas de avaliar
são menos valorizadas, sobretudo porque há a ideia de que a escola precisa
preparar os estudantes para terem bons resultados nas avaliações externas, o
que não está errado. Porém, o risco que se corre, geralmente, quando não existe
variedade no modo de avaliar é que, quando muito, até somos capazes de treinar
pessoas para resolverem questões, contudo, diversos estudantes são prejudicados
durante o ano letivo por não se encaixarem plenamente nessa forma de
demonstrarem seus conhecimentos.
Mas
não é só a questão da relação com as avaliações externas. Há a necessidade de
validar o aprendizado dos discentes, quantificar, e assim justificar o trabalho
da equipe escolar por meio de boletins inúmeras vezes com resultados ilusórios.
E por que ilusórios? Porque há a famosa “cola”, porque há o aprendiz que estuda
na véspera da avaliação, garante algumas informações na memória de curta
duração e que serão descartadas assim que conseguirem responder, não
configurando, de fato, aquisição de conhecimento.
Um
autor que nos ajuda bastante a refletir sobre essa questão é Cipriano Carlos
Luckesi, por isso, gostaria de pontuar algumas reflexões propostas em seu livro
Sobre notas escolares: distorções e
possibilidades, quando este afirma que as notas escolares “camuflam a realidade
para que não enxerguemos os seus limitados processos e resultados”. Entre os
pontos destacados pelo autor está a questão da, segundo ele, equivocada
compreensão da avaliação enquanto qualitativa e quantitativa, haja vista que
tendemos a relacionar quantitativo com a aprendizagem de conteúdo e o
qualitativo com a performance atitudinal dos estudantes.
De
acordo com Luckesi, toda avaliação deve mensurar a qualidade do que se aprende,
ou seja, é preciso saber se houve refinamento na apropriação dos conteúdos
trabalhados, “transformando-os em habilidades, quantitativamente
significativas”. Desse modo, não se deve confundir qualidade da aprendizagem
com comportamento estudantil, ainda que a as atitudes adequadas dos aprendizes
durante as aulas sejam importantes para avaliar o perfil deles e a
disponibilidade em aprender. Como o intuito do texto aqui apresentado é lançar
questões e indicar leituras, não pretendo resumir a obra citada, mas considero
pertinente pontuar outras duas distorções apresentadas pelo autor: a média
simples e a ponderada.
Quando
a média é simples, as avaliações de conteúdos distintos têm peso igual e,
muitas vezes, o estudante alcança uma nota alta em uma avaliação e baixa em
outra, mas, ao dividir os valores, ele alcança a média estabelecida pela escola
e é como se estivesse aprendido bem todos os conteúdos. Dessa maneira, para
Luckesi, “O efeito negativo desse processo é que os educadores e o sistema de
ensino se contentam coma média de ‘quantidade de qualidade’ (que, por si, é uma
ficção) e esquecem a necessidade de construção de resultados efetivamente
satisfatórios em todas as ‘unidades de conhecimento’ ensinadas e que deveriam
ser aprendidas”. E há mais distorções...
No
que tange à média ponderada, o autor vai questionar quais são os critérios
usados pelas instituições ao estabelecerem avaliações com pontuações distintas,
e quais os critérios utilizados pelos professores ao escolherem os conteúdos
que serão cobrados em cada uma dessas avaliações, delimitando os que valem mais
ou menos. Além dos pontos abordados até aqui, várias outras reflexões são
realizados pelo autor, fazendo-nos perceber o quanto distante estamos de
realizarmos um processo avaliativo justo e efetivo. Cabe ressaltar, porém, que
não se pode culpar os professores quando há, por parte da gestão pedagógica,
uma imposição dos modelos citados, não dando margem para que o docente
desenvolva outros métodos avaliativos.
Portanto,
não são apenas os educadores que devem refletir sobre avaliação, mas a gestão escolar
também. Caso não haja modificação no modo de avaliar, certamente teremos
dificuldades em ajudar os aprendizes a desenvolverem as competências
preconizadas pela BNCC. Dessa maneira, indico a leitura do livro apresentado
neste texto, o que possibilitará o acesso a uma análise de algumas
possibilidades avaliativas mais pertinentes, pois, apesar de julgarmos estarmos
agindo adequadamente, a reflexão proposta por Luckesi nos faz compreender que
ainda estamos muito longe de alcançarmos resultados avaliativos mais reais e
possibilitadores de procedimentos que, de fato, estejam comprometidos com uma
aprendizagem significativa para além do que aparece em um registro de boletim.
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