sábado, 19 de setembro de 2020

E as emoções, professores e professoras?



 Por Elis Franco

    Daniel Goleman, em Inteligência emocional: a teoria revolucionária que redefine o que é ser inteligente, afirma que “Uma visão da natureza humana que ignore o poder das emoções é lamentavelmente míope”. É notório que o estudo acerca das emoções e processo de aprendizagem tem ganhado destaque nos últimos tempos, inclusive, a competência 8 da BNCC preconiza que a escola deve colaborar para que os estudantes reconheçam suas emoções e saibam como gerenciá-las, não apenas as suas, como também as daqueles com quem convivem, criando uma noção de empatia e solidariedade.

            Ainda de acordo com esse autor, “Num certo sentido, temos dois cérebros, duas mentes ─ e dois tipos diferentes de inteligência: racional e emocional. Nosso desempenho na vida é determinado pelas duas ─ não é apenas o QI, mas a inteligência emocional também conta”. Nesse sentido, é crucial prepararmos os discentes para reconhecerem e lidarem com a raiva, o medo, a felicidade, a tristeza e tantos outros estados emocionais pelos quais passam ao longo da vida, visto que um “sequestro emocional” pode desencadear comportamentos inesperados e inoportunos, prejudicando as relações sociais e impedindo a aprendizagem necessária.

            Dessa maneira, tendo em vista a importância da saúde emocional nos processos de socialização e aprendizado, cabe à escola preocupar-se com tal questão , pois, como afirma Goleman, a inteligência emocional é “ a capacidade de criar motivações para si próprio e de pensar num objetivo apesar dos percalços; de controlar impulsos e saber aguardar pela satisfação de seus desejos; de se manter em bom estado de espírito e de impedir que a ansiedade interfira na capacidade de raciocinar; de ser empático e autoconfiante”.

Qualquer profissional de educação que esteja atuando na contemporaneidade sabe o quanto são inúmeros os casos de estudantes com dificuldade na aprendizagem não pelo fato de apresentarem problemas cognitivos, mas porque enfrentam batalhas emocionais terríveis, oriundas de relações familiares e sociais caóticas, ou questões de baixa autoestima, por exemplo. São aprendizes depressivos, ansiosos, buscando na automutilação e até no suicídio saídas para atenuarem a dor de existir.

Contudo, ainda que saibamos dessa realidade, nós professores nem sempre sabemos como ajudá-los, seja por total falta de interesse, seja porque também nós não conseguimos reconhecer e lidar com nossas emoções. Assim, não há como ser empático com nossos aprendizes se não desenvolvemos primeiro a capacidade de reconhecer o quanto um estado emocional mal administrado nos leva a perder a atenção, a tratar o outro com irritabilidade, a considerar que, em geral, aqueles que não alcançam resultado, uma boa nota na avaliação, age assim por total falta de interesse, quando, na verdade, apesar de isso poder ser verdadeiro, em significativa parte dos casos há uma dificuldade para gerenciar um processo emocional ,o qual, por diferentes razões, nem sempre chega ao conhecimento do docente.

Por experiência, sei o quanto é difícil estar pleno em sala de aula quando emocionalmente as coisas não andam bem conosco, sobretudo porque somos apenas um/uma para conduzir o processo de aprendizagem de estudantes com diferentes perfis, travando lutas internas variadas. Há, certamente, uma tendência de agirmos inadequadamente cada vez que não compreendemos o que se passa em nós, por isso, pensar a questão emocional do professor deve ser ponto básico de toda instituição de ensino que preze por um educação sensível e humanizada.

Nesse sentido, Max Marchand, em A afetividade do professor, ressalta que “Os educadores têm necessidade de cuidarem de sua vida mental, já que sua afetividade se acha mais ou menos alterada pelo seu ofício”. Além das questões externas ao ambiente escolar, há situações nesse espaço, inclusive em sala de aula, que também mexem com o estado emotivo do educador, por isso, não é suficiente um profissional que domine conteúdo, mas que esteja apto a lidar com suas emoções e a dos educandos, assim, como afirma Marchand, será possível criar um par afetivo adequado, possibilitando situações de aprendizagem mais significativas.

Concluindo esta reflexão, destaco o pensamento de Ramon M. Cosenza e Leonor B. Guerra, em Neurociência e educação: como o cérebro aprende, quando afirmam: “Por isso, as emoções precisam ser consideradas nos processos educacionais. Logo, é importante que o ambiente escolar seja planejado de forma a mobilizar as emoções positivas (entusiasmo, curiosidade, envolvimento, desafio), enquanto as negativas (ansiedade, apatia, medo, frustração) devem ser evitadas para que não perturbem a aprendizagem”.

Porém, tudo isso só ocorrerá se tivermos em nossas escolas gestão pedagógica de fato preocupada em olhar estudantes e professores com sensibilidade, ajudando-os a reconheceram e operacionalizarem as emoções que, por ventura, possam atrapalhar a beleza do momento em que alguém aprende mediado por quem está disposto a ensinar o que foi aprendido outrora. Somente com profissionais emocionalmente saudáveis será possível um ensino em que se compreenda o aprendiz em sua complexidade.

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