terça-feira, 2 de setembro de 2025

Lições para a vida - Elis Franco



“O professor medíocre conta.
O bom professor explica.
O professor superior demonstra.
O grande professor inspira.”
 
“Um bom mestre não somente ensina a pensar,
mas também a maneira de estar devidamente no mundo.”
(Josep M. Esquirol)

 

            Muitos são os professores que passaram pela nossa vida, desde os anos iniciais até a nossa formação adulta, e, sem sombra de dúvidas, vários deles nunca serão esquecidos, seja pelo que fizeram de bom ou pelas artes de ruindade a que nos submeteram cotidianamente. São tantas histórias cômicas e trágicas que, às vezes, chego a pensar se ser professor é um dom ou, como defendeu Sartre, não nascemos condicionados a nada, mas podemos nos moldar e agir bem em qualquer tarefa, desde que nos empenhemos o bastante.

            Entre as minhas professoras megeras, aterrorizadoras (todos os adjetivos fazem parte da minha memória da infância e adolescência, por isso, pode ser que ela não fosse tão megera assim), lembro-me de uma chamada Nilzete. Além do tom de voz irritante que ela tinha, ensinava matemática; para a infelicidade geral da nação, já que esta é uma material amedrontadora para boa parte do alunado. Nilzete ensinou-me em mais de uma série, não sei precisar o tempo. E mesmo tendo concluído a educação básica há 20 anos, sempre que eu passo pela escola onde estudei, lembro-me de seus sermões irritantes, de alguém que parecia não querer estar onde estava; pelo menos era o que eu pensava na época.

Hoje, porém, acho que ela sabia da dificuldade que era lidar com a indisciplina e promover a aprendizagem, e talvez essa era a forma que tinha de tentar fazer com que nós aprendêssemos algo. Mas existiram outros professores do perfil dela. No entanto, os bons mestres que tive, os afetivos, certamente compõem um número bem maior. Posso citar as professora Iraci, Nadja, Márcia  Aparecida e Noelice, que era agoniadinha, mas gente boa; o professor Reinaldo e tantos outros. Porém, por alguma razão, há uma professora que marcou a minha vida e dela eu não consigo lembrar-me de nada negativo: Dineia.

Eu costumo acreditar que criei uma história sobre ela, pois a impressão que eu tenho é que tenha sido minha professora a vida toda, começando na alfabetização e, posteriormente, no ensino fundamental e médio. Se Dineia não foi a minha primeira professora, talvez a que ocupou esse lugar tenha sido tão afetiva quanto ela, então, ao me esquecer do nome da outra, transferi a importância que teve para ela. Dineia sempre foi muito solicita, organizava passeios e eventos na escola, em parceria com Noelice. As duas viviam juntas. Era algo além da lição para a prova.

Hoje eu também sou professora e, cada vez que repenso minha prática educativa, no fundo, fico com vontade de, no futuro, ser uma lembrança positiva para as inúmeras vidas que passaram e passarão por minhas mãos. Tenho percebido que, além do conteúdo programático, a nossa responsabilidade é ensinar o afeto, sobretudo quando vivemos em um momento tão carente de afeição e compreensão. Isso, em parte e na prática, aprendi na universidade, com as professoras Alana, Elvya e Nadja, mestras nos cuidados e na escuta. E sobre elas ainda escreverei um dia.

17/09/2017


FRANCO, Elis. Memórias afetivas. 2ª ed. ampliada. Salvador: Cogito, 2022. p. 23-24

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