Muitos são
os professores que passaram pela nossa vida, desde os anos iniciais até a nossa
formação adulta, e, sem sombra de dúvidas, vários deles nunca serão esquecidos,
seja pelo que fizeram de bom ou pelas artes de ruindade a que nos submeteram
cotidianamente. São tantas histórias cômicas e trágicas que, às vezes, chego a
pensar se ser professor é um dom ou, como defendeu Sartre, não nascemos
condicionados a nada, mas podemos nos moldar e agir bem em qualquer tarefa,
desde que nos empenhemos o bastante.
Entre as
minhas professoras megeras, aterrorizadoras (todos os adjetivos fazem parte da
minha memória da infância e adolescência, por isso, pode ser que ela não fosse
tão megera assim), lembro-me de uma chamada Nilzete. Além do tom de voz
irritante que ela tinha, ensinava matemática; para a infelicidade geral da
nação, já que esta é uma material amedrontadora para boa parte do alunado.
Nilzete ensinou-me em mais de uma série, não sei precisar o tempo. E mesmo
tendo concluído a educação básica há 20 anos, sempre que eu passo pela escola
onde estudei, lembro-me de seus sermões irritantes, de alguém que parecia não
querer estar onde estava; pelo menos era o que eu pensava na época.
Hoje, porém, acho que ela sabia da
dificuldade que era lidar com a indisciplina e promover a aprendizagem, e
talvez essa era a forma que tinha de tentar fazer com que nós aprendêssemos
algo. Mas existiram outros professores do perfil dela. No entanto, os bons
mestres que tive, os afetivos, certamente compõem um número bem maior. Posso
citar as professora Iraci, Nadja, Márcia Aparecida e Noelice, que era agoniadinha, mas
gente boa; o professor Reinaldo e tantos outros. Porém, por alguma razão, há
uma professora que marcou a minha vida e dela eu não consigo lembrar-me de nada
negativo: Dineia.
Eu costumo acreditar que criei uma
história sobre ela, pois a impressão que eu tenho é que tenha sido minha professora
a vida toda, começando na alfabetização e, posteriormente, no ensino
fundamental e médio. Se Dineia não foi a minha primeira professora, talvez a
que ocupou esse lugar tenha sido tão afetiva quanto ela, então, ao me esquecer
do nome da outra, transferi a importância que teve para ela. Dineia sempre foi
muito solicita, organizava passeios e eventos na escola, em parceria com
Noelice. As duas viviam juntas. Era algo além da lição para a prova.
Hoje eu também sou professora e,
cada vez que repenso minha prática educativa, no fundo, fico com vontade de, no
futuro, ser uma lembrança positiva para as inúmeras vidas que passaram e
passarão por minhas mãos. Tenho percebido que, além do conteúdo programático, a
nossa responsabilidade é ensinar o afeto, sobretudo quando vivemos em um
momento tão carente de afeição e compreensão. Isso, em parte e na prática,
aprendi na universidade, com as professoras Alana, Elvya e Nadja, mestras nos
cuidados e na escuta. E sobre elas ainda escreverei um dia.
17/09/2017
FRANCO, Elis. Memórias afetivas. 2ª ed. ampliada. Salvador: Cogito, 2022. p. 23-24
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Seu comentário será lido.